domingo, 27 de fevereiro de 2011

GOLPE NA CARIDADE


Golpistas se aproveitam da caridade para lucrar. ZH revela artimanhas de falsários para embolsar dinheiro de doações - Humberto Trezzi, ZERO HORA 26/02/2011

Não há limites para a credulidade humana. Nem para os que pretendem lucrar em cima dela. Tirando proveito da generosidade alheia, golpistas transformaram a filantropia no caminho mais curto entre o bolso dos contribuintes e o seu. É o que constatou Zero Hora em 45 dias de peregrinação pelos subterrâneos do mundo da benemerência. Circulando em um meio repleto de entidades sérias, espertalhões surrupiam o nome de estabelecimentos consagrados, inventam creches que não saem do papel ou arrecadam contribuições para asilos que não atendem ninguém.

Que o diga Eveline Borges Streck, presidente do Educandário São João Batista, instituição que cuida de 136 crianças portadores de deficiência na Capital. Ela se comoveu ao receber o telefonema de um homem que dizia se dedicar a uma causa idêntica à dela. Padre José, como se anunciou o desconhecido, disse presidir a Associação Comunitária Assistencial Nova Vida, voltada à assistência de crianças com HIV. O trabalho soou tão nobre que Eveline deu R$ 100 à tal associação, cuja sede seria na Rua Raul Pompeia, bairro Glória, com subsede em Santa Maria.

Entidade era uma ficção

ZH conferiu os dados legais do recibo emitido pela Nova Vida. O Conselho Municipal da Criança e do Adolescente informou que não existe registro da entidade — sem isso, ela não pode solicitar contribuições. Na Secretaria Estadual da Fazenda, ZH checou o número do CNPJ da entidade. É falso.

Como não ser enganado ao doar

l. Jamais contribua com doações para representantes de entidades das quais você não
ouviu falar e que não tenham referências a apresentar. Pesquise na internet, antes de entregar dinheiro;

2. Recibo não é prova. Pode ser falsificado. Ligue para os telefones na credencial do suposto emissário. Cheque se o nome no papel coincide com o do site da entidade e se os números de telefones informados conferem;

3. Anote o endereço e visite a entidade assistencial que você pretende ajudar. É melhor conferir com seus próprios olhos do que pagar mensalmente para um benefício que você não sabe se está sendo prestado;

4. Anote o número do CNPJ, obrigatório para entidades assistenciais, e confira se ele
é válido no site da Secretaria Estadual da Fazenda (www. sefaz.rs.gov.br) ou da Receita Federal (www.receita. fazenda.gov.br). Basta digitar o numero do CNPJ;

5. Evite fornecer seu número de cartão de crédito e outras informações pessoais ou bancárias a qualquer endereço eletrônico que se apresente como relacionado a ações
de caridade;

6. Na Capital, é possível conferir com o Conselho Municipal de Assistência Social – telefone (51) 3227-3922 – se a entidade está cadastrada como beneficente. Em outras cidades, é aconselhável ligar para secretarias de Políticas Públicas de Ação Social;

7. Peça informações sobre as finanças da entidade e veja se as contas são controladas por alguma auditoria periódica. Quando o trabalho é sério, a direção da entidade não tem receio de apresentar esses dados;

8. Peça uma lista das pessoas que estão à frente da entidade, para checar as ideias e os valores implantados. Quanto maior o contato com as pessoas envolvidas no trabalho prestado, menos surpresas desagradáveis;

9. É possível contribuir sem fazer doações em dinheiro. Basta ser voluntário, ajudando com seu conhecimento ou experiência. “O voluntário de hoje pode ser o doador de amanhã”, aconselha o site www.filantropia.org.

FONTES: Geraldo Da Camino, procurador do Ministério Público de Contas, Ranolfo Vieira Junior, chefe da Polícia Civil, Adalgisa Chaves, promotora de Justiça