sábado, 2 de novembro de 2013

FILHOS CONECTADOS E PROTEGIDOS


ZERO HORA  02 de novembro de 2013 | N° 17602

LETÍCIA DUARTE


Como proteger as crianças na internet



Especialistas em educação e internet garantem que não é preciso ter medo da tecnologia, mas alertam que a exposição dos filhos à rede precisa ser acompanhada de perto para minimizar riscos. Pesquisa mostra que crianças de dois a 11 anos ficam em média 17 horas por semana conectados.

Aos cinco anos, o estudante porto-alegrense Thomas Ribas ainda não sabe ler e escrever, mas é um veterano digital.

Antes de completar dois anos, o menino já posicionava os dedos para tocar a tela do tablet da família, em uma amostra das transformações crescentes que desafiam antigos hábitos de pais e professores – os imigrantes do mundo digital, que no dia a dia precisam aprender como educar os nativos.

Especialistas em educação e internet garantem que não é preciso ter medo da tecnologia, mas alertam que a exposição dos filhos à rede precisa ser acompanhada de perto para minimizar riscos. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ibope Nielsen Online em 2012 revelou que internautas brasileiros de dois a 11 anos permanecem em média 17 horas por semana conectados ao computador – um índice superior ao de países como a França, por exemplo, onde a média de tempo gasto na mesma faixa etária é inferior a 11 horas.

Ao mesmo tempo em que os filhos estão megaconectados, os adultos ainda engatinham: 75% das crianças e dos adolescentes acreditam saber mais sobre a rede do que os pais ou responsáveis, conforme dados do estudo TIC Kids Online Brasil 2012: pesquisa sobre o uso da internet por crianças e adolescentes, publicado neste ano pelo Comitê Gestor da Internet no país.

“Assim como os pais desde cedo orientam os filhos para não conversarem com estranhos, olharem para os dois lados ao atravessar a rua e não aceitarem bala de desconhecidos, eles também devem conscientizar seus filhos sobre os riscos de uso da internet. A melhor prevenção é a informação, pois de nada adianta impor restrições em casa se eles não as têm fora do convívio familiar”, alertam as pesquisadoras Lucimara Desiderá e Miriam von Zuben, analistas de segurança no Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança, em artigo que acompanha o relatório da pesquisa.

Quanto menor a criança, menor o tempo online

Para a pedagoga e psicóloga Léa Fagundes, coordenadora do Laboratório de Estudos Cognitivos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o essencial é que os pais mostrem interesse pelas atividades do filho. Em vez de censurar o uso, o mais importante é acompanhar o que os pequenos fazem na rede.

– Isso não vale só para o computador, vale para qualquer brinquedo. É importante sentar com a criança, ser companheiro. Não é nada que seja muito diferente das atitudes esperadas dos pais no dia a dia – afirma.

Impor limites de horário também é recomendado, para evitar que o tempo de conexão comprometa outras tarefas. O bom senso é a regra básica, observa a professora Patricia Alejandra Behar, coordenadora do Núcleo de Tecnologia Digital aplicada à Educação da Faculdade de Educação da UFRGS.

– Quanto menor a criança, menor deve ser o tempo online. O ideal é que seja menos de uma hora por dia até os oito anos, sempre com a supervisão de adultos – recomenda.

Ficar atento às configurações de segurança do computador caseiro para evitar o acesso a conteúdos inadequados é outra tarefa importante, lembra Sérgio Crespo, professor de informática em educação e engenharia de software da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Federal de Minas Gerais.

– Não existe barreira para tudo, mas se pode dificultar certas coisas – orienta.


Interação afinada com a tecnologia


Na casa onde a professora Daniela Ribas, 34 anos, vive com o marido e os dois filhos, há mais computadores e dispositivos móveis do que gente.

Estimulados desde pequenos a interagir com a tecnologia, Thomas, cinco anos, e Thales, nove anos, que são alunos do colégio Anchieta, passam cerca de três horas por dia conectados – na moradia que reúne quatro computadores, dois tablets, dois smartphones e os videogames DS e Wii, com acesso à internet.

Ávidos por jogos, os pequenos estão sempre atrás de novidades na rede. Mas a interação permanente não assusta os pais. Pelo contrário. Como a mãe tem mestrado em ciência da computação e o pai, formado em Ciência da Computação, é proprietário de uma empresa na área, os dois estudantes já nasceram em um ambiente tomado pela tecnologia. Tanto que, na casa, é possível ligar e desligar qualquer luz da casa pela internet – um sistema de automação desenvolvido pelo pai, que os filhos adoram.

– A gente negocia o que dá para baixar, sempre cuido para ver se o conteúdo é adequado. Procuro jogos educativos, mas eles sempre querem alguns de luta também, aí a gente conversa – conta a professora, que também usa o iPad para dar aulas de matemática, no Anchieta e na PUCRS.

A fórmula encontrada pela família é uma dica dos especialistas para minimizar os riscos da internet: quanto mais os pais conhecerem os recursos de cada aparelho, melhor poderão supervisionar seus filhos.

Patrícia Alejandra Behar

Coordenadora do Núcleo de Tecnologia Digital aplicada à Educação da Faculdade de Educação da UFRGS

De preferência, antes de oferecer dispositivos tecnológicos para as crianças, os pais deveriam se atualizar, para estar por dentro de quais as tecnologias digitais que existem e, principalmente, das ferramentas que eles têm acesso.







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